Essa lista não tem a pretensão de ser uma "edição definitiva", mas apenas uma idéia dos que fizeram bastante diferença na longa e rica história dos quadrinhos, influenciaram os rumos do segmento e causaram impacto no mercado, artística ou comercialmente falando. Por isso, a qualidade das obras, embora fundamental, não foi o único critério adotado para a escolha dos nomes.
Pela diferença dos gêneros nos quais os quadrinhistas se sobressaíram e pelos momentos distintos em que cada um se destacou na história da nona arte, os nomes estão listados em ordem aleatória de importância, pois a criação de um ranking poderia soar injusta diante de tudo que esses artistas ainda representam para a indústria dos quadrinhos.
Stan Lee (1922) e Jack Kirby (1917 - 1994), Estados Unidos:
Em parceria com outros quadrinhistas, Stan Lee e Jack Kirby criaram verdadeiros ícones dos quadrinhos, como Homem-Aranha e Capitão América, respectivamente. Juntos, entretanto, não apenas conceberam para a Marvel Comics outra galeria de personagens que permanecem até hoje ativos no imaginário popular - Hulk e X-Men são alguns exemplos -, como também produziram histórias que fazem parte dos maiores clássicos da nona arte e os consagraram como uma das grandes duplas das HQs.
As razões para o casamento perfeito entre os dois são fáceis de ser explicadas. Basta saber o que, individualmente, eles "aprontaram" na indústria dos quadrinhos.
Quanto a Kirby, artistas e leitores já convencionaram falar a alcunha "rei" antes de seu nome. A inovação que ele promoveu graficamente nas HQs que produzia fez escola, influenciando as gerações seguintes de desenhistas. Ângulos cinematográficos, movimentos dinâmicos e uma mestria no desenho de máquinas são apenas algumas das características marcantes de suas obras publicadas na Marvel e na concorrente DC, para a qual também criou alguns personagens, como os Novos Deuses. Uma das atuais premiações concedidas pela indústria dos quadrinhos norte-americanos, o Kirby Awards, foi batizado em sua homenagem.
Simplesmente, eles criaram o primeiro super-herói dos quadrinhos. Mais que isso, o personagem em questão se tornou um dos maiores fenômenos da cultura pop mundial, ganhou um emblema reconhecido de imediato até por quem não lê gibi e serviu de cópia e inspiração para muito do que surgiu nas HQs depois de 1938, ano de sua criação.
Eles deixaram de produzir as aventuras do herói em 1947. Somente em meados dos anos 1970 conseguiram vencer a longa batalha judicial contra a DC Comics por uma participação nos rendimentos da marca Super-Homem. A partir daí, passaram a receber uma pensão da editora e viram seus nomes obrigatoriamente creditados em toda HQ do personagem lançada pela editora.
Shuster já havia abandonado definitivamente os quadrinhos nos anos 1940. Siegel continuou criando outros personagens, sem alcançar sucesso, chegando a escrever histórias do Tio Patinhas para a Disney italiana.
Carl Barks (1901 - 2000), Estados Unidos:
Além de criar vários personagens - entre eles o "quaquilionário" Tio Patinhas, outro ícone da cultura popular que virou um sinônimo, neste caso o que define avareza -, o escritor e desenhista revolucionou as HQs Disney com narrativas visuais ousadas e um humor escrachado, mas também sutil e ácido, em aventuras cheias de referências históricas, geográficas ou mesmo ideológicas, que uniram crianças e adultos em uma grande fileira de fãs em vários países.
É um dos raros casos de artistas dos quadrinhos cuja genialidade não faz distinção do gênero no qual se destacaram. Ou seja, falar de Carl Barks não é só apontá-lo como o mais cultuado dos quadrinhistas da turma de Patópolis em todos os tempos, mas enquadrá-lo entre os maiores gênios da nona arte.
Sua influência também atingiu autores fora do circuito infantil. E dentro da turma dos patos e de um certo camundongo orelhudo, inspirou muitas gerações de artistas que seguiam seu estilo de narração ou de traço.
O mais fiel seguidor de Barks é o norte-americano Keno Don Rosa, cuja obra é baseada no que seu confesso inspirador produziu e, por isso mesmo, foi alçado à condição de mestre dos quadrinhos contemporâneos.
Osamu Tezuka (1928 - 1989), Japão:
Reconhecido como o maior de todos os mangakás, o japonês Osamu Tezuka marcou sua carreira pelo pioneirismo. Sua importância para o mangá e o animê o faz ser apontado como o "pai" moderno dessas artes.
Prolífico ao extremo, é dono de uma imensa galeria de criações de sucesso internacional, mas o de maior destaque é o herói Astro Boy, surgido no início dos anos 1950 e responsável pelo estouro da cultura dos mangás e animês.
Para se ter uma idéia da influência de Tezuka, foi ele quem definiu as características que já se tornaram indissociáveis das HQs e animações japonesas: a estilização dos traços, incluindo os olhos enormes dos personagens.
Will Eisner (1917 - 2005), Estados Unidos:
Por seu estúdio passaram grandes nomes dos quadrinhos mundiais, como Bob Kane (criador do Batman) e Jack Kirby. Criou, em 1940, o personagem Spirit, um dos mais cultuados personagens dos gibis. Em 1978, com o álbum especial Um Contrato com Deus, forjou os nomes e os conceitos de graphic novel e, mais tarde, arte seqüencial. Escreveu livros sobre a nona arte e técnicas de desenho e narrativas textuais e visuais que se tornaram verdadeiros guias para profissionais ou aficionados pelo assunto. O Eisner Awards, considerado o Oscar dos quadrinhos norte-americanos, foi criado em sua homenagem.
A própria indústria dos quadrinhos deve bastante a Eisner. Suas técnicas de vanguarda em texto e ilustração, com desenhos expressivos e cheios de enquadramentos ousados e inéditos para as determinadas épocas em que o artista os apresentou ao mundo, ajudaram a mudar o conceito de que gibi é diversão apenas para crianças.
Para tirar a prova, nada melhor que ler qualquer aventura clássica de Spirit e constatar que ela parece ter sido produzida na década atual.
Alex Raymond (1909 - 1956), Estados Unidos:
Mas a influência de Raymond foi mais além. Nas tiras de Flash Gordon, na década de 1930, surgiu a minissaia, uma peça do vestuário feminino que se tornou realidade somente na década de 1960.
E não fica só nisso. A Nasa, agência espacial dos Estados Unidos, se inspirou na aerodinâmica das naves interplanetárias desenhadas por Alex Raymond para criar foguetes e ônibus espaciais.
Alan Moore (1953), Inglaterra:
Um gênio moderno dos quadrinhos, Alan Moore escreveu obras como Watchmen, V de Vingança, A Liga Extraordinária e diversas outras nos gêneros super-herói, terror, fantasia, erotismo e mais, que em maior ou menor grau mudaram a forma de se fazer ou pensar quadrinhos. Embora tenha tirado várias de suas idéias de quadrinhos e literatura fantástica européia ele merece o mérito de escrever essas histórias em um modo mainstream.
Teorias científicas ou sociais, iconoclastia, ciência, História e muitos outros elementos fazem parte do caldo do "mago bardo" inglês, mestre na metalinguagem e referências literárias.
Watchmen foi eleita pela revista norte-americana Time como um dos 100 mais importantes romances do século passado.
René Goscinny (1926 - 1977) e Albert Uderzo (1927), França:
Goscinny e Uderzo criaram muitos personagens, como o impagável índio Umpa-pá.
No livro Maurício - Quadrinho a Quadrinho, escrito pelo jornalista Sidney Gusman e lançado em 2006 pela Editora Globo, o criador da Turma da Mônica apresentou uma descrição definitiva para o personagem e, por conseqüência, para a qualidade do trabalho de Goscinny e Uderzo. "Asterix é uma das coisas mais inteligentes surgidas nos quadrinhos. Eu sugiro suas histórias como um ritual de passagem do leitor mirim para o juvenil. É criativo, pesquisado, inteligente e satírico. Diversão garantida".
Protagonista de versões para cinema e TV e com fãs nos mais diversos países, é um raro fenômeno pop nesse gênero. O lançamento de seu último álbum, por exemplo, resultou em enormes filas de espera nas lojas especializadas e ações de divulgação como gigantescas pinturas de Asterix e Obelix nos aviões das SN Brussels Airlines, na Bélgica.
Neil Gaiman (1960), Inglaterra:
Quadrinhos reconhecidos como obra literária? Ganhando prêmios como o World Fantasy Award, nos Estados Unidos, nunca antes (nem depois) conferido a uma HQ?
O autor foi alçado à categoria de celebridade no showbusiness e de "deus" entre os fãs de quadrinhos. Tudo porque as histórias (não apenas de Sandman) que concebeu foram fundamentais para a nona arte ser vista com olhos menos preconceituosos e mais admirados por quem não lia HQs.
Entre dezenas de outros prêmios, Gaiman recebeu nada menos que 13 Eisner Awards.
Há muitas controvérsias sobre quem foi o primeiro autor de histórias em quadrinhos. Registros documentados apontam para artistas mais antigos que Richard Felton Outcault - incluindo o ítalo-brasileiro Angelo Agostini.
O que pesa em favor do cartunista norte-americano, entretanto, é que os elementos de uma HQ completa foram usados pela primeira vez nas tiras de Yellow Kid (Menino Amarelo), em 1894.
Como a representação dos balões de diálogos, símbolos máximos das HQs, que faltavam nos quadrinhos anteriores aos do personagem de Outcault, e que surgiram nas aventuras do simpático Yellow Kid. A ele também pertencem as primeiras tiras coloridas de que se tem notícia.
Fonte: UniversoHQ