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quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Desvendando o Mangá Nacional

Uma ótima infomação para os apreciadores do quadrinhos. Cada vez mais teses e trabalhos acadêmicos são criados utilizando-se da temática dos quadrinhos. Tanto em termos psicológicos, quanto de análises políticas e sociais.

Bom, enham uma boa leitura, Achei interessante, espero que vocês também gostem.

Uma análise sociológica de Holy Avenger

Por Sonia M. Bibe Luyten

Amaro Braga As histórias em quadrinhos japonesas, os mangás, ultimamente têm sido destaques em muitas teses nas universidades brasileiras. O Mestrado em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco acolheu Amaro Braga num instigante estudo sobre uma revista que deixou sua marca no mercado editorial brasileiro, sobrevivendo por 40 números mensais (e mais dois posteriores, não analisados neste trabalho): Holy Avenger, da dupla Marcelo Cassaro (texto) e Erica Awano (arte).

O estudo de Amaro Braga teve como foco compreender o papel desempenhado pela revista, tendo como hipótese se ela representa simplesmente uma reprodução da cultura japonesa ou, de forma mais complexa, apresenta-se como uma hibridização entre a cultura brasileira, a japonesa e a americana. Afinal, como ele mesmo menciona "a troca deste padrão de consumo afeta as representações culturais e sociais estipuladas até então".

Holy Avenger O autor teve e a preocupação de analisar todas as 40 edições, identificando não só os personagens que compuseram as histórias, mas também aspectos específicos da linguagem dos quadrinhos, os tipos de requadros utilizados, as vinhetas, onomatopéias e recursos metalingüísticos.

Amaro Braga, a partir de uma perspectiva sociológica, também tomou como recurso a semiologia para fornecer subsídios necessários para a análise da publicação "percebendo seus códigos e linguagens propostas, de maneira a explicitar sua natureza e sua relação social".

A presença maciça dos mangás no Ocidente, a partir da década de 1990, tem gerado algumas indagações a respeito do seu sucesso. Embora o Brasil já tivesse familiaridade com a cultura japonesa, foi só a partir do sucesso internacional dos mangás e animês que, não apenas foi levado ao grande público este universo por meio das traduções, mas também incentivou a produção de quadrinhos com influência do traço nipônico.

Holy Avenger O desencadeamento que se seguiu após a febre dos animês na TV brasileira, como os Cavaleiros do Zodíaco, aproximou principalmente o público infanto-juvenil, num fenômeno nunca visto em termos de audiência nacional.

A presença de publicações com o traço estilo mangá se fez notar primeiramente em fanzines e, mais tarde, em publicações com inserção de "material estrangeiro", desenvolvendo-se quadrinhos numa variante desta influência.

Dentre as produções de "mangá nacional" houve três exemplos significativos: Oiran, Mangá Tropical e Holy Avenger cada uma com características diferentes.

Enquanto Oiran seguia uma linha fiel ao quadrinhos japonês, o Mangá Tropical foi uma produção que se apropriou da estética do desenho para retratar o país onde foi publicado, no caso o Brasil, com cenários da região e do cotidiano nacional.

Por que Holy Avenger?

Holy AvengerAmaro situa Holy Avenger "como uma revista produzida por brasileiros, desenhada no estilo mangá e com a temática relacionada ao RPG a ter uma circulação nacional." Sua escolha como objeto de pesquisa seguiu os motivos apontados acima, mas para o autor o que interessou como análise foi a forma como foi feita, isto é, a linguagem utilizada nesta tentativa.

O nome Holy Avenger, como todos os fãs da revista sabem, vem de uma espada que os personagens da categoria Paladino usam no RPG Dungeons&dragons (D&D).

A revista em si surge de uma proto-história produzida por Marcelo Cassaro, Rogério Saladino e J.M. Trevisan, com o título homônimo ao da revista, publicada em 1998, em três capítulos nas edições 44 a 46 da revista Dragão Brasil.

Magic: Holy Avenger A aventura fez grande sucesso e o roteirista Cassaro convidou a "mangaká" (desenhista de mangá) Erica Awano para desenhar a revista. Tematicamente, Holy Avenger não escapou de uma aventura típica de RPG quadrinizada e seguiu em seus 40 números, sem grandes mudanças editoriais, formatação, diagramação e número de páginas. Alcançou, contudo, cifras surpreendentes de tiragem: 30 mil exemplares e com vendagens superiores a 50%, conforme relatam seus editores.

O processo de hibridização de Holy Avenger por meio das onomatopéias e metalinguagem

O desafio que Amaro Braga se propôs foi demonstrar como se deu o processo de hibridização por meio de alguns elementos que compõem as HQs, como a onomatopéia. Ao mensurar o número dos sons típicos dos quadrinhos que aparecem na revista, o autor verificou que Holy Avenger possui uma quantidade significativa de ruídos por páginas, como nos mangás. Constatou que aparecem representações típicas dos comics (como flash, crash, pow), sonoridades em português (como coça, rasga, risca), além de outras típicas da produção nipônica.

Holy Avenger Em sua pesquisa foram constatadas 574 onomatopéias de 159 tipos diferentes, que Amaro exemplificou detalhadamente no anexo do trabalho, dando uma média de 1,5 ruídos por página desenhada, num universo de 808 páginas.

Embora as onomatopéias nacionais sejam em menor número, o conjunto com as americanas e japonesas deu indícios para o autor de constatar um processo híbrido em sua constituição.

O uso da metalinguagem nos quadrinhos também foi alvo de análise. Nos mangás este é um recurso utilizado em grau máximo para amplificar a mensagem dos personagens. Por exemplo, ao chorar, acabam-se literalmente em lágrimas, esperneiam ou gritam sacudindo os membros, além das caretas típicas que às vezes ocupam a totalidade do quadrinho.

Holy Avenger Segundo Amaro, foram usados 704 recursos metalingüísticos durante as 40 edições, assinaladas em nove categorias, como "gotinhas", "veias saltadas", linhas cinéticas para produzir movimentos, entre outras.

Então, a pergunta inevitável é: seria Holy Avenger uma representação mais que definida da manifestação contemporânea de uma cultura híbrida? Amaro Braga responde positivamente a esta questão, apoiando-se não só em sua averiguação, mas também na obra de Nestor Canclini (Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade), que reflete sobre "o desenvolvimento de uma aliança entre a cultura icônica e a literatura no momento em que se manifesta por meio de desenhos, literatura, uma arquitetura cênica e uma poética e a própria mídia".

Esta seria, portanto, uma visão estrutural da construção das histórias em quadrinhos como objeto híbrido. A própria proposta primária de Holy Avenger ser um "mangá nacional" já demonstra, como diz Amaro, "seu aspecto híbrido, por querer desenvolver uma linguagem étnica, cultural e geograficamente determinada, fora dos ambientes propícios a sua criação - que seria ser japonês e viver no Japão".

Holy Avenger A outra questão que emerge do trabalho é o "discurso dos autores da revista na defesa de sua obra como produto nacional, que valoriza a produção de quadrinhos brasileiros", uma vez que a revista ganhou o Troféu HQ Mix de melhor revista seriada.

Segundo Amaro, apesar de Holy Avenger desenvolver um produto no qual estariam expressos estes mecanismos de identificação nacional, "não desmerece seu papel incentivador na produção de quadrinhos brasileiros, principalmente nas parcas, mas presentes onomatopéias 'nacionais', e também por desbravar o mercado para outras publicações independentes".

Seu trabalho conclui que o desenvolvimento de Holy Avenger é fruto de um processo em que se inserem as culturas na contemporaneidade; "é resultante do fluxo de investida da cultura global em quebrar as barreiras que dividem as culturas desenvolvendo um espaço de relação híbrido, cujas diferenças não são aculturadas, mas sim re-significadas em sua própria diferenciação".

Destaques do trabalho

1) Tema atual e original

2) Bibliografia abrangente sobre histórias em quadrinhos, mangás e aquelas na construção do eixo metodológico do trabalho com as obras selecionadas de Pierre Bourdieu, Nestor G. Canclini, Stuart Hall, Pierre Bourdieu entre outras.

3) Inserção de anexos que efetivamente foram utilizados para se compreender e auxiliar na análise do corpus do trabalho

4) Verificação, mensuração e análise detalhada do conjunto das onomatopéias em cada uma das 40 edições de Holy Avenger, com a quantidade em cada uma das publicações.

5) Apresentação das onomatopéias, sua tipologia e classificação.

6) Tabela de distribuição das metalinguagens analisadas no texto nas 40 edições distribuídas em nove categorias.

7) Gráfico das homenagens aos mangás e animês nas páginas de Holy Avenger, com o número da revista, página, descrição da cena e o mangá e animê que faz referência.

Amaro Braga é graduado em Antropologia, licenciado em Sociologia, além de ser também especialista em História da Arte e das Religiões. Atualmente é pesquisador do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, professor substituto da Universidade Federal de Pernambuco e Professor da Faculdade Mauricio de Nassau. Como desenhista, suas HQs já foram selecionadas no II, III, IV, V e VI FIHQ-PE, no Salão UNIMEP-SP e no FIQ-BH. É diretor do CDICHQ - Centro de Desenvolvimento e Incentivo Cultural às Histórias em Quadrinhos - e publicou em 2006 o álbum Passos Perdidos, História Desenhada: A Presença Judaica em Pernambuco.

Fonte: Universo HQ