A música tema era muito boa mesmo.
Robô Gigante

Criação de Mitsuteru Yokoyama completa 40 anos
Qual seria o nome mais óbvio para se chamar um robô grande como um edifício? Robô Gigante, claro! Mas há 40 anos, tudo era novidade e esse foi o nome do herói de um dos seriados mais interessantes de seu tempo. Gigantescos robôs guerreiros já haviam aparecido em mangás na década de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial. Mas a cara de esfinge idealizada pelo desenhista Mitsuteru Yokoyama logo chamou a atenção do público quando ele apareceu pela primeira vez em mangá, em abril de 1967. Adaptado para a TV pela Toei Company poucos meses depois, seu seriado trazia todo o charme e ingenuidade dos filmes de ficção científica desse período.
A trama

No início da aventura, um ser espacial vem com sua nave à Terra e decide conquistá-la usando sua avançada tecnologia para criar monstros e máquinas de guerra. O invasor em questão é o monstro que se auto-intitula Imperador Guilhotina, líder do Bando BF (Big Fire), um exército de soldados e cientistas sempre prontos para cumprir seus planos de dominação mundial. Contra eles, a organização paramilitar Unicorn tem agentes especiais sempre prontos para o combate.
Numa noite tranqüila, o monstro marinho Dacolar surge e afunda um navio de passageiros japoneses, iniciando os ataques do Bando BF. Os únicos sobreviventes são o garoto Daisako Kusama (que viajava sozinho) e um homem chamado Jyuro Minami, o agente secreto U3, da Unicorn. Chegando em uma ilha misteriosa que servia de base para o BF, eles são capturados e levados a um hangar subterrâneo. Lá, encontram o enorme robô de combate que estava sendo finalizado. O cientista que estava sendo forçado a construir o chamado Robô Gigante, mostra a Daisako e Minami o relógio-comunicador que seria usado para comandar sua criação. De brincadeira, Daisako fala perto do microfone, e sua voz acaba sendo registrada na memória do Robô. Mas o velho cientista tinha planos de destruir o gigante de metal para que não fosse usado contra a humanidade e se rebela contra seus captores. Ele acaba morto, mas antes consegue ativar uma bomba que havia preparado.
Minami e Daisako escapam por pouco e, de longe, vêem a base voar pelos ares. Mas, para a surpresa de todos, o Robô Gigante resistiu e a explosão fez com que seus circuitos fossem ativados. Uma vez operacional, Daisako descobre que podia controlar o Robô. Tendo sido a primeira voz identificada pelo gigante, o garoto passa a ser seu mestre.

Recrutado para a Unicorn pelo Chefe Azuma, Daisako recebe o codinome U7, passando a agir secretamente para combater o Bando BF. Entre os destaques da equipe, havia ainda outra criança, a pequena Mari Hanamura, dotada de extrema inteligência.
Arma suprema da Unicorn, o Robô Gigante era capaz de voar e desferir uma variedade de ataques, como raios laser (emitidos dos olhos), lança-chamas (da boca), mísseis (da ponta dos dedos) e seu mais famoso golpe, o Soco de 1 Megaton, que levava qualquer inimigo a nocaute. Enfrentando monstros, outros robôs e gigantescas máquinas de guerra, o Robô Gigante trava batalhas difíceis, sempre vencendo graças ao seu vasto arsenal.
No final da série, o Imperador Guilhotina se torna um gigante e ameaça explodir seu corpo com força suficiente para destruir a Terra. Restou ao robô levar a ameaça para longe e, contrariando ordens de Daisako e mostrando vontade própria, explodir no espaço junto com o vilão. Foi um final bastante dramático e até incomum nesse gênero de seriado, quebrando clichês e deixando muitos fãs chocados.
Aterrisando no Ocidente

Nos EUA, a série foi rebatizada como Johnny Sokko and His Flying Robot. Esse era o título que aparecia na abertura da versão exibida no Brasil. Além da mudança de Daisako para Johnny, o herói Minami fora rebatizado de Jerry e o Bando BF virou a Gargoyle Gang, entre outras alterações. Ignorando tudo isso, a adaptação brasileira seguiu o texto original e manteve os nomes japoneses quando a série foi exibida nos anos 70 na extinta TV Tupi e posteriormente na TV Record.
Uma grande picaretagem cometida na versão exibida nos EUA foi que a empresa American International Television inventou novos créditos, dando a entender que o Robô Gigante era uma produção estadunidense. Tal prática de se chamar tradutor de “roteirista”, responsável pela adaptação de “diretor” e o dono da distribuidora de “produtor” se perpetrou em muitas séries japonesas traduzidas para o público dos EUA e depois redistribuídas para o resto do mundo.
Em 1970, quatro episódios (incluindo o primeiro e o último) foram editados na forma de um longa-metragem para a TV nos EUA, intitulado Voyage into space. O curioso é que a saga toda se passa na Terra (e não no espaço sideral), fato que passou desapercebido pela distribuidora na hora da criação do título.
Série cultuada entre fãs nostálgicos, sua fama atravessou décadas e, em 1992, ganhou uma renomada minissérie em animê diretamente para o mercado de vídeo. Em fevereiro deste ano, uma nova série de TV em animação foi lançada no Japão. Outras animações já foram anunciadas, renovando o fôlego do velho robô para continuar conquistando novas gerações de fãs.
Curiosidades sobre a série
O título original, Giant Robo (e não “Robot”) é apenas um dos muitos exemplos de inglês errado que aparecem na mídia japonesa. Grafado assim, pode-se dizer que é um nome próprio derivado de “robot”, e não a palavra propriamente dita, por mais estranho que possa parecer.
O ator-mirim Mitsunobu Kaneko havia se destacado antes na série Akuma-kun (“O Pequeno Demônio”), produzido pelo mesmo estúdio Toei Company. Ele nunca mais teve um trabalho de repercussão e logo saiu da área artística. Faleceu em 1997, aos 41 anos.
O robô grandalhão apareceu em abril de 1967 na revista semanal japonesa Shonen Sunday, da editora Shogakukan. Voltada ao público adolescente masculino, a revista apresentou vários personagens que seriam conhecidos no Brasil, como Ranma ½, Patlabor, Mai – A garota sensitiva, Inu-Yasha e Kamen Rider Black.
O autor do mangá, Mitsuteru Yokoyama, nasceu em junho de 1934 e morreu em abril de 2004, vítima de um incêndio acidental em sua residência.
Os agentes da Unicorn se saudavam com um gesto de levantar a mão direita e raspar a ponta do polegar com os dedos indicador e médio. O gesto era acompanhado de um forte som (“fuip”), que entrava como efeito sonoro. Muitos garotos certamente tentaram imitar a saudação, sem sucesso...
Apesar dos avançados jatos individuais que usavam nas costas para voar e de seus comunicadores em forma de caneta, os agentes da Unicorn usavam armas contemporâneas, como pistolas automáticas e metralhadoras.
Criada numa época anterior ao termo “politicamente correto”, a série mostrava as crianças Daisako e Marie manejando armas de fogo realistas e liquidando os capangas do Bando BF com naturalidade. Tal coisa seria impensável nos dias de hoje, ainda mais em se tratando de uma série para exportação.
Ficha técnica
Título original: Giant Robo
Estréia no Japão: 11/10/1967 (Net - atual TV Asahi)
Número de episódios: 26
Criação: Mitsuteru Yokoyama
Roteiro: Masaru Igami, Hisashi Abe e outros
Trilha sonora: Takeo Yamashita
Direção: Hiroichi Takemoto e outros
Produção: Toei Company
Emissoras no Brasil: TV Tupi e TV Record
Elenco:Mitsunobu Kaneko: Daisaku Kusama/ U7 Akio Itoh: Jyuro Minami/ U3 Yumiko Katayama: Mitsuko Nishino/ U5 Tomomi Kuwabara: Mari Hanamura/ U6 Shozaburou Date: Chefe Azuma/ U1 Matasaburo Tanba: Aranha Toshiyuki Shiyama: Imperador Guilhotina
Fonte: Omelete
Quem leu minhas colunas anteriores (e não as esqueceu logo em seguida) sabe que nunca vi muito sentido na insistência em se criar super-heróis brasileiros. Além da questão prática - há tantos na praça, será que os leitores estão atrás de mais um? -, há ainda aquelas que sempre estão presentes quando este tema é discutido - não seria por si só algo típico da cultura americana a crença em um herói poderoso e íntegro que defende a liberdade e a segurança com o uso de sua força?
Sendo assim, vamos então encarar a questão: o que seria um super-herói brasileiro? Melhor: como fazer o leitor acreditar em um super-herói brasileiro?
Então, a questão conveniente seria "Como fazer o leitor acreditar e respeitar um tema tipicamente americano quando usado por italianos?" Aí, sim, a resposta é Tex. Os personagens têm nomes em inglês, as paisagens são americanas e as referências históricas também são todas da terra do Tio Sam.
Então, vamos mudar por hora a pergunta clássica "Como seria um super-herói brasileiro?" para esta questão: "Como fazer o leitor acreditar e respeitar um tema tipicamente americano (os super-heróis) quando usado por brasileiros?" Ao ampliarmos esta questão, fica mais fácil fugir das soluções simplistas, como dar um nome em português, fazer referências a índios e colocar o herói morando em Pindamonhangaba ou Quixeramobim.
...ou já vamos estar começando mal. Será que super-herói só pode ser desenhado num único estilo?
Pra quê? Sempre achei que um homem de terno e gravata ou camiseta com os poderes do Super-Homem seria algo muito mais interessante do que um cara todo fantasiado. Ver o José erguendo um caminhão me impressionaria muito mais do que ver o capitão sei-lá-das-quantas fazendo isso.
Sim, é muito difícil abandoná-los 100%, mas ao menos poderia haver uma variação deles. É impossível não lembrar das HQs Marvel / DC ao ler histórias com megacorporações, laboratórios de armas químicas, generais sádicos atrás da fonte dos superpoderes, seres metade homem, metade máquina, senadores inescrupulosos contra os heróis...
A ficha do herói
Sempre me perguntei por que tanta narração e reflexões em histórias de ação. "Eu não sou um deles. Disso, tenho certeza. Por isso, não posso concordar com esta visão distorcida dos fatos". "Três socos. Um pontapé. É só o que preciso para aniquilar este monstro. Ele se mostra como invencível, mas aposto minha vida como ele cai no terceiro golpe. Um já foi dado". Se no cinema temos a trilha sonora ajudando o público a entrar no clima de ação, esse tipo de recordatório, vício dos quadrinhos, só torna tudo enfadonho.
Fugir dos estereótipos
Enriquecendo o cenário
Parece exagero, mas não é. Para inserir seu personagem no Brasil, você precisa saber exatamente que país é esse, desde os primórdios até hoje. Senão, quando a sua trama pedir, você só terá as referências históricas americanas (guerra do Vietnã, II Guerra na visão dos ianques, colonização do oeste) ou as brasileiras mais básicas (descobrimento, independência, Golpe de 1964 etc).
Ao tomar desenhistas consagrados como referência (e não há nada de mal nisso, desde que fique na influência, não na cópia), o brasileiro acaba assimilando mais do que devia. Com isso, os carros, as roupas, os cabelos, as casas, os móveis, as lojas, as calçadas, as estradas e tudo o mais que rodeia os personagens ganha um toque americano, fugindo até bastante do que vemos ao nosso lado todos os dias.